“Qual o sentido do universo?” Com essa provocação, Clóvis de Barros Filho, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), iniciou a sua palestra Ética – discurso e prática. Em uma verdadeira aula de filosofia, Barros Filho comentou que a ética cristã, típica da Idade Média, partia do pressuposto de que cada pessoa tinha uma vocação e que devia ficar feliz com a missão que Deus havia lhe dado. O conceito de ética, presente nesse momento, era o de destino, no qual o livre arbítrio não existia. Ou seja, as pessoas não podiam fazer escolhas. Com a Reforma Protestante, de Martinho Lutero, tornou-se mais complicado definir o que era certo e errado: afinal, a nova igreja pregava o livre arbítrio e não via nada de pecaminoso em gerar lucros e ganhar dinheiro – enquanto a igreja católica afirmava ser “mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ser recebido no reino do céu”.
Em seu passeio pela história, Barros Filho explicou que, durante o Renascimento, a mesma confusão acima (entre o certo e o errado) aumentou: afinal, fazia sucesso a obra de Nicolau Maquiavel, O Príncipe, que aconselhava governantes e políticos de que era preciso fazer o que fosse, até mesmo utilizando meios escusos, para obter o que se desejasse – ação traduzida na emblemática frase “os fins justificavam os meios”. “Age bem quem realiza algo que tem de ser feito. E o prestígio é aferido pelos ganhos ou perdas gerados pelo indivíduo”, analisou Barros. Ou seja, o homem é senhor de seu destino e dono de seu livre arbítrio: o sucesso ou fracasso na vida dependem de seu desempenho. Já nos séculos 18 e 19, os filósofos ingleses Jeremy Bentham e Stuart Mill propuseram a seguinte teoria: produz bem quem sabe fazer bem-feito e age bem quem alegra a maioria.
Barros Filho acrescentou que o que mais dificulta o estabelecimento de um código de ética é que os homens estão sempre mudando seus pensamentos, bem como suas células. Como diz o filósofo grego Heráclito: “Um rio nunca passa pelo mesmo lugar duas vezes”. Por isso, a dificuldade de se estabelecer um código de ética: não só os indivíduos se modificam ao longo dos dias, mas a sociedade também se altera e, consequentemente, é necessário estabelecer novos códigos de conduta. O que era válido no passado não é mais hoje. Tanto na sociedade quanto nas organizações. O professor da ECA conta que, antigamente, não se dava importância, nas companhias, em ser eticamente sustentável e não poluir, sendo o grande objetivo obter lucros cada vez maiores. Atualmente, a empresa que só se preocupa com os lucros e age de forma agressiva em relação à natureza não recebe bons olhares por parte de parte crescente da sociedade. “Ética não é estática e é preciso, de tempos em tempos, definir o que é certo e errado”, concluiu.